sexta-feira, 2 de novembro de 2007

E se...

"Entre nós a coisas são assim:

Gostavas dela? Sim - E ainda gosto

Devia ter sido... - mas não foi!

Podiamos ter ficado juntos - mas não ficamos.

Arrependido? - Algumas vezes.

O que faço? - Tenho muitas saudades.


Espero que não seja daqui a muitos anos..."

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Diferença de timmings

Passamos a vida em busca de alcançarmos determinados objectivos, sejam eles em relação a nós próprios ou aos outros. Muitas vezes esses mesmos objectivos são alterados por forças impossíveis de combater, ou porque até nós descobrimos que têm que ser alterados.
Depois quando iniciamos uma vida a dois os nossos objectivos mudam, tentando ir ao encontro da outra pessoa ou mesmo completando-os.
Passam alguns de objectivos a sonhos, a desejos, a anseios, e até mesmo a alguma dor...

Um dia enchi-me de coragem. Deitei-me virada para ti, respirei fundo e disse:
- Estive a pensar. Se engravidasse em Outubro o bebe nascia em Julho e assim podia logo começar a trabalhar em Outubro!
- Oh Ana, filhos agora nem pensar!!
E assim se transforma um objectivo, um sonho, em nada, em dor, em angústia...
Durante uns tempos sentia que nem me apetecia falar contigo, não me apetecia estar perto de ti, nem sequer conseguia imaginar-te a tocar-me.
Tentei perceber a razão das tuas palavras, dizias desculpas sem sentido, razões que para mim não eram válidas. Sentia que estávamos a viver uma grande farsa...talvez ainda hoje sinta o mesmo...
Até que por fim me disseste que não querias porque não te sentias preparado, como se o meu desejo fosse algo completamente absurdo, inimaginável.
E assim continuamos, a viver uma vida que para mim se tornou vazia de sonhos. E talvez a minha falta de vontade de fazer amor contigo seja a forma de te mostrar o quanto me magoaste e magoas.
Ou quem sabe se mataste um pouco do meu amor por ti?

Timmings...é engraçado ver que a minha vida girou sempre em volta de diferentes timmings, meus ou dos outros. E que em quase todos eles, quem se magoou fui eu...

Falei no post anterior do T.. Não diga que não tenha sobrado um pouco do que sentia, mas este também não é o nosso timming. Nunca abandonaria a vida que tenho por causa dele.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

De volta, mesmo de volta

Já passou mais de um mês, terminaram as férias e regressou a labuta de todos os dias...
As férias foram boas, uma semana na Madeira para sair da rotina. Achei aquilo engraçado mas penso que não um sitio onde gostava de morar...
Depois foram cinco semanas a trabalhar a apanhar fruta...isso custou bastante, 9h de trabalho ao sol, a começar logo às 8h da manhã...foi duro, muito duro...

Há dias em que as coincidências são tantas que nos fazem pensar...
Já não falava com ele à imenso tempo mas naquele dia lembrei-me dele. Pensei mandar-lhe uma sms mas depois esqueci-me. Quando cheguei a casa tinha uma janela do msn com ele a falar comigo. Começámos a conversar e reparei logo que algo estava mal, quando se namora com alguém dois anos, quando se divide a mesma casa quase esses dois anos há coisas que não nos escapam, mesmo numa conversa na net...
Consegui desabafar comigo como não tinha conseguido com ninguém, falou-me da morte da avó e do fim do namoro com a "actual" namorada. Sentia-o mesmo em baixo...
Conversa puxa conversa e começámos a falar de como as coisas acabaram entre nós, dos tempos que se seguiram, da nossa relação enquanto colegas de estágio no ano seguinte. Foi extremamente nostálgico, por vezes até doloroso...
Tal como lhe disse, erámos perfeitos um para o outro, eu não precisava por vezes de falar que ele sabia o que eu sentia, o que eu precisava. Ele não precisava explicar porque eu sabia sempre as razões dele, as palavras que ele precisava. Mas eu fiz asneira e ele nunca mais confiou em mim, estraguei tudo por uma atracção sem sentido, uma atracção que me devorava todos os dias...mais tarde ele já não acreditou em mim quando eu falava verdade...e não dava mais...
Contei-lhe algumas coisas, pediu-me perdão por não ter acreditado, senti uma vontade imensa de lhe dizer que ele estaria sempre no meu coração, mas achei que não era a altura certa devido à carência em que ele estava, podia julgar mal as minhas palavras...
A certa altura da conversa falámos do T., alguém que me marcou profundamente, alguém que eu amei de uma forma louca, doentia. Eu era caloira, ele deu a aula fantasma, ele tinha os olhos azuis mais lindos que eu tinha visto, eu tinha uma forma de viver que ele precisava. Mas 7 anos de diferença foram determinantes...

E não é que depois de jantar voltei à net e quem cá estava?! o T.
Falámos de coisas banais, de coisas do passado...e eu senti aquela saudade, aquela vontade de me perder naqueles olhos azuis de novo...
DEsculpa dizer-te com esta frontalidade, mas tu no meu coração és insubstituivel. Tenho uma paixão enorme por ti. Eu amo-te, talvez da mesma forma que te amava naquela altura"...
Como se reage a isto?
Como se reage ao facto de ele me dizer isto e estar casado com outra mulher que conheceu depois de acabarmos?
Como se reage ao facto de ele ser pai de uma menina de 3 anos?!
Eu não sei como se reage a uma coisa destas...principalmente quando essa pessoa nos marcou tanto...quando sabemos que um amor como aquele nunca vai acabar...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Desculpem...

Eu sei que estou em falta...mas estou a trabalhar na apanha da fruta, saio de casa às 7h da manhã e volto por volta das 19h30...quando chego só me apetece tomar um bom banho, jantar e dormir...
Mas logo que isto acabe eu conto todas as novidades, vejo e comento os vossos blogs e agradeço os prémios que entretanto ganhei!
lol

Beijocas a todos
Espero que estejam bem

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

De regresso


Voltei de férias, mais livre, mais solta, ainda bem que temos a possibilidade de passar férias em locais que não fazem parte da rotina!
Tenho andado ocupada com as arrumações, pôr a roupa na máquina, fazer isto e aquilo, logo que passe esta agitação volto.
Beijos a todos que por aqui passam, espero que estejam todos bem

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Farta...

Estou farta, estou cansada, estou ferida...
Não acredito mais...
Sinto o peso do mundo nos ombros hoje...
Só queria ir embora daqui...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Porquê...

Considero-me uma pessoas desconfiada, posso até dizer, por vezes desconfiada demais. Sei que não é correcto, sei que não o devia ser, mas também sei que ao longo da vida passei por determinadas situações que me levaram a ser e a sentir assim...
Sei que tenho atitudes que não são as mais correctas, que vasculho em coisas que não são minhas, que procuro sinais e que em alguns casos encontrei coisas que não devia ter encontrado...
Iniciámos a nossa relação de uma forma pouco convencional, obra do acaso e com muitos problemas logo de início. Mas quando me propus a manter a nossa relação, mesmo separados por 250Km, foi na base de que podia sempre confiar, até ao dia em que me mostraste que talvez não o devesse fazer...
Como podias ter aquelas conversas com outras raparigas? Como as podias elogiar daquela forma, mesmo sendo pela net, mesmo sendo apenas "uma brincadeira"?!
A partir desse dia nunca mais consegui evitar este sentimento e tudo começou a ser alvo de desconfiança.
Tentei dar o benefício da dúvida, dar a oportunidade de me mostrares que afinal tinha sido um pequeno erro, porque afinal não tinha passado disso mesmo, umas conversas pela net.
Passamos o tempo com aquela sensação de que a qualquer momento vamos descobrir mais um pequeno erro, algo que nos vai destruir mais um pouco, mas como voltar as costas a um sentimento que sentíamos que existia?...
Até ao dia em que outra conversa foi descoberta, na qual dizias ter "saudades" dela, "mais do que devia" dizias tu. O que querias que pensasse ao ler isto?!
Desabou tudo, sentia que tudo tinha sido uma grande mentira, que tinha vivido uma ilusão e que de repente voltamos à dura realidade...e doeu tanto...
Eu sabia que tinham ficado amigos, mas como admitir que dissesses tal coisa?!
"Não quer dizer o que parece!" disseste tu, eu fingi acreditar, não tive coragem de me ir embora...como posso eu ser tão fraca?...
Noutro dia ela ligou, nada que me espante pois sei que mantêm o contacto. "Vim pra Almada", porque não disseste VIÉMOS?!
E porque se falam apenas em horários em que não estamos juntos?!
No sábado, por coincidência (quero eu pensar assim), ela que nem mora aqui na zona estava lá. E foi preciso eu me aproximar de vocês para tu me apresentares. "Esta é a Ana", e porque não "Esta é a minha namorada Ana"??
Já não sei mais o que pensar, já não sei mais o que sentir em relação a tudo isto...queria pensar que são apenas tristes coincidências...mas já nem disso tenho a certeza.
Não sei se vou conseguir viver esta relação com esta desconfiança constante, e tu vais conseguir suportá-la?!
Não sei mais o que fazer...
Gostava de entender o porquê...
Hoje não foi um bom dia...talvez amanhã seja melhor...

terça-feira, 31 de julho de 2007

Mini-férias!

Vou passar uns dias em Almada, quando voltar prometo ler os vossos blogs e comentá-los!

Beijocas grandes

Eu...




Estive a ver os blogs que costumo ler e achei engraçado no blog da Espírito_Rosa ela ter contado um pouco da vida dela, de como ela é, da família, fez-me ter a sensação de a "conhecer" um pouco melhor!
Obrigada Espírito_Rosa!!

Tenho 27 anos e já acabei o meu curso há 2 anos, não tenho conseguido colocação mas trabalho não tem faltado.
Durante 19 anos vivi numa cidade relativamente pequena em que parece que toda a gente se conhece e sabe da vida dos outros. Vivi sempre com a minha mãe, o meu pai sempre foi extremamente ausente, nunca consegui perceber se por feitio ou por vergonha da filha fora do casamento...
Ainda hoje, mesmo com a maturidade inerente à idade, não lho consigo perdoar...não lhe perdoo pelas ausências, pela falta de amor, pela falta de ajuda em quase todos os momentos, mas principalmente pelo egoísmo puro, pelo mau carácter, pela falta de respeito para com a mulher pura e inocente que a minha mãe era, pela falta de respeito comigo quando pediu à minha mãe para abortar...
Pensamos que determinadas situações só acontecem em filmes e novelas mas enganamo-nos...
A típica mulher inocente, apaixonada pelo homem mais velho, que diz que a ama profundamente e que afinal é casado, que afinal nunca se separa da mulher...
Depois surgem as outras mulheres, os outros casos...talvez uma história tão típica de novela mas que aconteceu tão perto de mim...
Mesmo sendo muito pequena lembro-me de ver a minha mãe a chorar na sala, sentada no sofá com a cabeça baixa...devia ter cerca de 3 anos na altura mas lembro-me perfeitamente, dessas e de outras situações também não muito agradáveis...
Não me posso queixar que não recebi todo o amor possível, sei que a minha mãe foi a mãe e o pai que não tive, deu-me tudo o que estava ao seu alcance, mas também sei que muita da minha instabilidade emocional se deve à ausência de uma figura paternal, talvez por todos aqueles comportamentos que as meninas têm perante os pais nunca me tenham sucedido...
A pior fase em termos de relação foi sem dúvida a adolescência. A grande diferença de gerações entre mim e a minha mãe, que foi mãe aos 35 anos, tornou a nossa relação extremamente conflituosa, por vezes quase destrutiva...
Era uma adolescente revoltada, angustiada, desiludida com a vida, desiludida com os outros, imensamente depressiva e introvertida, sentimentos que ela não conseguia perceber e com os quais nunca soube lidar. Não me lembro de quantas tardes e noites me fechava no quarto a chorar, a ouvir música, a escrever no meu caderninho e ela nem sequer das minhas tristezas se apercebia...ou eu simplesmente não deixava que ela se aproximasse de mim, talvez o verdadeiro problema não fosse ela mas eu, que me afastava, que me queria isolar dela e de todos, que não a deixava ajudar-me. Após 3 anos de depressão cheguei ao fundo do poço e do desespero, a tentativa de suicídio foi inevitável e o ponto de chegada de todo aquele meu percurso destrutivo.
Naqueles tempos após descobri que a minha própria mãe não me conhecia, não conseguia entender o meu desespero e a minha auto-destruição. Ouvia-a falar sobre mim à psicóloga e pensava que a pessoa que vivia comigo me sentia uma desconhecida, não me reconhecia nas palavras dela...
Foram tempos difíceis, a minha mãe desesperava por me tentar ajudar, eu continuava a não deixar que ela se aproximasse de mim, a toda a hora a preocupação era imensa por não me deixar sozinha, a toda a hora queria que eu dissesse onde estava, com quem estava, etc, etc. Como não podia deixar de ser, o meu pai esteve sempre ausente de tudo isto como se não existisse, penso até que nem sequer soube do sucedido...para quê saber se nunca se preocupou com tantas outras coisas?!
No ano seguinte iniciei a minha vida académica, o que ajudou bastante a minha recuperação. Era o início de outra vida, noutra cidade, com outros amigos e outros objectivos. Foi também o início de uma nova relação com a minha mãe, talvez motivada pela distância, pelo sentimento de falta e saudade. Foram 6 anos fora desta cidade, podia vir sempre que quisesse mas também me podia ir embora quando assim entendesse. Não houve umas férias que não me fosse embora mais cedo do que o previsto, ela não entendia que não me podia controlar como dantes, que eu já não estava habituada a dar satisfações da minha vida a ninguém, coisa que ela pedia a toda a hora e que eu não estava disposta a ceder.
No último ano da Faculdade, no dia da imposição das insígnias, mais uma vez ele (o meu pai) esteve ausente, num dia que era tão importante para mim. No campo do Bessa chorei, de forma a que ninguém notasse, mas chorei de desilusão, chorei por todas as mágoas que sinto por ele, por ser incapaz de ser o pai que sempre desejei e necessitei...nunca lhe vou perdoar essa ausência...
Após acabar o curso regressei a casa, com a perfeita noção que não ia conseguir viver na mesma casa que a minha mãe, não era capaz de voltar a ser a filha que tinha saído 6 anos antes. E foi o que aconteceu, no final de Agosto saí, até hoje, pois conseguimos ser melhor "mãe" e "filha" assim, tenho muito mais necessidade de a visitar e de estar com ela morando numa casa diferente.
Hoje sei que sou uma pessoa diferente, sinto até de forma diferente, continuo a ser a mesma impulsiva de sempre, mas com noção do que sou capaz e do que, principalmente, os outros são capazes...

E o amor?! diriam vocês
É claro que houve, muito, mas isso fica para outro dia!!

quarta-feira, 25 de julho de 2007



Há dias em que me apetece ir embora daqui...sem dizer nada, sem dizer para onde vou, apenas pegar nas coisas essenciais e sair porta fora...
Tenho saudades de quando estudava longe e o podia fazer. Quando me apetecia fugia de lá, não precisava de dar qualquer tipo de satisfação, apenas pegava em algumas peças de roupa e estava resolvido. Sentia que era o meu porto de abrigo, que ficava o tempo que quisesse ou necessitasse e depois regressava. Sinto saudades dessa liberdade...
A vida tornou-se tão monótona...tão vazia de tanta coisa, tão isenta de emoção, tão milimetricamente igual ao dia anterior, e ao dia anterior, e ao dia anterior...
Desiludida?!
Penso que não...

Hoje apenas saudade, saudade de ti, saudade de mim, saudade de nós, saudade do nosso Amor de antes, antes das minhas lágrimas, das tuas, antes da minha angústia, saudade dos meus sonhos que pensei que fossem também os teus...
Apetecia-me sair daqui, apetecia-me deixar de ser eu nestes momentos, gostava de conseguir esquecer tanta coisa, sentir de maneira diferente, amar de maneira diferente e até viver de maneira diferente.
Angustiada?!
Penso que sim...

Fiz tantos castelos no ar, sonhos esses que foram destruídos de uma forma tão cruel...não acredito que alguma vez vá ser capaz de perdoar, esquecer, compreender...
Apetecia-me sair daqui, viver outra vida, escolher outro caminho...
Apetecia-me sair daqui...

terça-feira, 24 de julho de 2007

As palavras não ditas

Palavras...
Muitas vezes dou por mim em monólogos, conversas unidireccionais imaginadas, com frases pensadas para determinadas situçaões que nunca acontecem...e como eu gostava que algumas se tornassem realidade...
Imagino um cenário completo, imagino a presença, a maneira de estar, as respostas nunca dadas, como se de um filme se tratasse, o filme da minha vida não concretizada...
São as palavras não ditas, essas que tantas vezes me atormentam a alma por continuarem a vaguear sem destino, por não terem sido ditas na altura certa ou por nunca se ter proporcionado o momento.
Há mesmo dias em que parece que me vão sufocar, deslocam-se rapidamente, como se quisessem sair a qualquer custo, como se houvesse uma imensa necessidade de se libertarem de mim, e eu luto com tudo o que tenho para as manter aprisionadas pois o mundo cá fora não as ia suportar...
Gostaria de ter a coragem de dizer tudo o que me apetece sem ter receio das consequências, de me desfazer de todas estas palavras de uma só vez e ficar vazia e livre, de voltar a ser um livro em branco.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A imagem no espelho

Todos os dias as mesmas rotinas: lavar os dentes com aquela pasta, lavar o rosto com este produto, por o creme, pentear o cabelo com aquela escova...
Rotinas, sempre a mesma ordem, sempre o mesmo procedimento.
E há um dia em que ficamos a olhar o espelho como se a imagem nele reflectida fosse novidade, como se houvesse algo de diferente. E há... ao longo da face surgiram traços diferentes, marcas desconhecidas até aquele dia, falta o brilho na pele, até um pouco do brilho no olhar...

E eu fico a olhar para a imagem do espelho, a imagem de mim mesma, a imagem daquilo em que me tornei ao longo destes anos, como se nunca para mim tivesse olhado, e descubro que afinal o tempo passa. Surgiram os primeiros sinais da idade adulta sem que me tivesse apercebido, como se ontem tivesse reflectido a imagem de criança ousada, atrevida, destemida...e hoje veja apenas um rosto marcado pela idade adulta. Mas eu nem me lembro de me tornar adulta...de onde surgiram estas marcas?!
Por mais estranho que pareça, começo a sentir um desconforto, como se de um momento para o outro aquela imagem fosse desconhecida, como se não me sentisse "eu". Mas eu nunca disse que queria deixar de ser criança...
Surgem as responsabilidades, as pressões, as obrigações inerentes a um estatuto que ninguém me perguntou se eu queria...
E é tudo isso que vejo reflectido naquele espelho, um "eu" que mudou sem perguntar, que envelheceu sem pedir licença, que principalmente me deixou sem hipóteses de voltar atrás.

Não quero com isto dizer que não sei ou não quero envelhecer, apenas não me sinto ainda preparada para ver as primeiras rugas, imaginar que a partir de agora é sempre em contagem decrescente...
Até aos 18 parece que o mundo é todo nosso, que nada nunca nos vai conseguir parar, não há obstáculos, apenas metas e desejos. Sentia a vida como um turbilhão de sentimentos, sem que fosse necessário pensar se era certo ou errado, tudo era permitido, tudo era possível. Vivia cada momento em busca de chegar mais acima, mais longe, sabia que a viagem era longa mas não tinha nunca a sensação que a estrada um dia acabava...
Hoje sinto que o tempo passa, que deixa marcas visíveis aos olhos dos outros e dos meus...
Sinto essa imagem reflectida no espelho à minha frente, em cada ruga, em cada poro dilatado do meu rosto e em cada ausência de brilho do olhar...

terça-feira, 17 de julho de 2007

À deriva



Após alguns dias a debruçar-me sobre o assunto, a pesar os prós e os contras, decidi que não havia dúvidas...precisava, mais que isso, havia em mim uma grande necessidade de deixar de guardar estas palavras, estas angústias, estes medos, este vazio imenso que surge ao longos dos meus dias...
Cheguei à minha fase da "deriva", quando o barco fica ao sabor da maré, sem vontade própria, sem saber onde vai chegar, muitas vezes sem saber de onde veio nem como ali chegou...
Cheguei aos meus dias sempre iguais, acordar, comer, dormir, e nos espaços livres fazer as coisas banais sem sentimento, sem perspectiva de futuro ou sonho...

É principalmente assim que me vejo nesta nova fase, completamente vazia de sonhos, como se viver fosse apenas isso, viver cada minuto sem saber para onde vou, o que vou fazer a seguir, o que vou fazer amanhã, onde estarei daqui a uns dias, a uns meses...
Começo a sentir as primeiras rugas na face, os primeiros sinais da idade a marcarem o meu corpo pequeno, mas principalmente, começo a sentir as minhas necessidades enquanto mulher!
Mas onde guardo eu essas necessidades, esses sonhos sem a mínima esperança de continuidade para além da minha cabeça e do meu pequeno mundo?

"À deriva", assim ficam os meus sonhos, os meus anseios, as minhas necessidades, os meus dias neste meu pequeno mundo, onde só eu consigo viver e sentir...
Um mundo pequenino onde apenas vivo eu, onde não permito que mais ninguém entre...
Mas nem sempre foi assim, claro. Houve alturas da minha vida em que permiti que outro alguém entrasse, que me fizesse companhia, que sonhasse comigo e me abraçasse com medo de cair. Mas, por razões que por vezes ainda desconheço, voltei a ficar sozinha naquele cantinho, a ver os castelos a derreterem como bonecos de neve ao sol, sem que nada conseguisse impedir tamanha destruição...
Até ao dia em que decidi fechar a porta, trancá-la de tal forma que nunca mais ninguém puderá alguma vez entrar.

Talvez por isso nunca mais senti o Amor da mesma forma, com a mesma entrega e a mesma ansia, porque o medo nunca mais vai embora e persiste a cada abraço e a cada beijo. Por vezes, dou-me permissão de sonhar mais um pouco, fechar os olhos e vaguear pelo sonho como se nada me fizesse cair. Mas surge sempre um obstáculo, uma barreira invisível à primeira vista de me barra a viagem e me atira de novo para o meu pequenino mundo.
E eu lá fico, "à deriva", ao sabor da maré, sem saber para onde vou, na esperança que uma leve brisa me aqueça a alma...