quinta-feira, 19 de julho de 2007

A imagem no espelho

Todos os dias as mesmas rotinas: lavar os dentes com aquela pasta, lavar o rosto com este produto, por o creme, pentear o cabelo com aquela escova...
Rotinas, sempre a mesma ordem, sempre o mesmo procedimento.
E há um dia em que ficamos a olhar o espelho como se a imagem nele reflectida fosse novidade, como se houvesse algo de diferente. E há... ao longo da face surgiram traços diferentes, marcas desconhecidas até aquele dia, falta o brilho na pele, até um pouco do brilho no olhar...

E eu fico a olhar para a imagem do espelho, a imagem de mim mesma, a imagem daquilo em que me tornei ao longo destes anos, como se nunca para mim tivesse olhado, e descubro que afinal o tempo passa. Surgiram os primeiros sinais da idade adulta sem que me tivesse apercebido, como se ontem tivesse reflectido a imagem de criança ousada, atrevida, destemida...e hoje veja apenas um rosto marcado pela idade adulta. Mas eu nem me lembro de me tornar adulta...de onde surgiram estas marcas?!
Por mais estranho que pareça, começo a sentir um desconforto, como se de um momento para o outro aquela imagem fosse desconhecida, como se não me sentisse "eu". Mas eu nunca disse que queria deixar de ser criança...
Surgem as responsabilidades, as pressões, as obrigações inerentes a um estatuto que ninguém me perguntou se eu queria...
E é tudo isso que vejo reflectido naquele espelho, um "eu" que mudou sem perguntar, que envelheceu sem pedir licença, que principalmente me deixou sem hipóteses de voltar atrás.

Não quero com isto dizer que não sei ou não quero envelhecer, apenas não me sinto ainda preparada para ver as primeiras rugas, imaginar que a partir de agora é sempre em contagem decrescente...
Até aos 18 parece que o mundo é todo nosso, que nada nunca nos vai conseguir parar, não há obstáculos, apenas metas e desejos. Sentia a vida como um turbilhão de sentimentos, sem que fosse necessário pensar se era certo ou errado, tudo era permitido, tudo era possível. Vivia cada momento em busca de chegar mais acima, mais longe, sabia que a viagem era longa mas não tinha nunca a sensação que a estrada um dia acabava...
Hoje sinto que o tempo passa, que deixa marcas visíveis aos olhos dos outros e dos meus...
Sinto essa imagem reflectida no espelho à minha frente, em cada ruga, em cada poro dilatado do meu rosto e em cada ausência de brilho do olhar...

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