terça-feira, 17 de julho de 2007

À deriva



Após alguns dias a debruçar-me sobre o assunto, a pesar os prós e os contras, decidi que não havia dúvidas...precisava, mais que isso, havia em mim uma grande necessidade de deixar de guardar estas palavras, estas angústias, estes medos, este vazio imenso que surge ao longos dos meus dias...
Cheguei à minha fase da "deriva", quando o barco fica ao sabor da maré, sem vontade própria, sem saber onde vai chegar, muitas vezes sem saber de onde veio nem como ali chegou...
Cheguei aos meus dias sempre iguais, acordar, comer, dormir, e nos espaços livres fazer as coisas banais sem sentimento, sem perspectiva de futuro ou sonho...

É principalmente assim que me vejo nesta nova fase, completamente vazia de sonhos, como se viver fosse apenas isso, viver cada minuto sem saber para onde vou, o que vou fazer a seguir, o que vou fazer amanhã, onde estarei daqui a uns dias, a uns meses...
Começo a sentir as primeiras rugas na face, os primeiros sinais da idade a marcarem o meu corpo pequeno, mas principalmente, começo a sentir as minhas necessidades enquanto mulher!
Mas onde guardo eu essas necessidades, esses sonhos sem a mínima esperança de continuidade para além da minha cabeça e do meu pequeno mundo?

"À deriva", assim ficam os meus sonhos, os meus anseios, as minhas necessidades, os meus dias neste meu pequeno mundo, onde só eu consigo viver e sentir...
Um mundo pequenino onde apenas vivo eu, onde não permito que mais ninguém entre...
Mas nem sempre foi assim, claro. Houve alturas da minha vida em que permiti que outro alguém entrasse, que me fizesse companhia, que sonhasse comigo e me abraçasse com medo de cair. Mas, por razões que por vezes ainda desconheço, voltei a ficar sozinha naquele cantinho, a ver os castelos a derreterem como bonecos de neve ao sol, sem que nada conseguisse impedir tamanha destruição...
Até ao dia em que decidi fechar a porta, trancá-la de tal forma que nunca mais ninguém puderá alguma vez entrar.

Talvez por isso nunca mais senti o Amor da mesma forma, com a mesma entrega e a mesma ansia, porque o medo nunca mais vai embora e persiste a cada abraço e a cada beijo. Por vezes, dou-me permissão de sonhar mais um pouco, fechar os olhos e vaguear pelo sonho como se nada me fizesse cair. Mas surge sempre um obstáculo, uma barreira invisível à primeira vista de me barra a viagem e me atira de novo para o meu pequenino mundo.
E eu lá fico, "à deriva", ao sabor da maré, sem saber para onde vou, na esperança que uma leve brisa me aqueça a alma...

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