terça-feira, 31 de julho de 2007

Eu...




Estive a ver os blogs que costumo ler e achei engraçado no blog da Espírito_Rosa ela ter contado um pouco da vida dela, de como ela é, da família, fez-me ter a sensação de a "conhecer" um pouco melhor!
Obrigada Espírito_Rosa!!

Tenho 27 anos e já acabei o meu curso há 2 anos, não tenho conseguido colocação mas trabalho não tem faltado.
Durante 19 anos vivi numa cidade relativamente pequena em que parece que toda a gente se conhece e sabe da vida dos outros. Vivi sempre com a minha mãe, o meu pai sempre foi extremamente ausente, nunca consegui perceber se por feitio ou por vergonha da filha fora do casamento...
Ainda hoje, mesmo com a maturidade inerente à idade, não lho consigo perdoar...não lhe perdoo pelas ausências, pela falta de amor, pela falta de ajuda em quase todos os momentos, mas principalmente pelo egoísmo puro, pelo mau carácter, pela falta de respeito para com a mulher pura e inocente que a minha mãe era, pela falta de respeito comigo quando pediu à minha mãe para abortar...
Pensamos que determinadas situações só acontecem em filmes e novelas mas enganamo-nos...
A típica mulher inocente, apaixonada pelo homem mais velho, que diz que a ama profundamente e que afinal é casado, que afinal nunca se separa da mulher...
Depois surgem as outras mulheres, os outros casos...talvez uma história tão típica de novela mas que aconteceu tão perto de mim...
Mesmo sendo muito pequena lembro-me de ver a minha mãe a chorar na sala, sentada no sofá com a cabeça baixa...devia ter cerca de 3 anos na altura mas lembro-me perfeitamente, dessas e de outras situações também não muito agradáveis...
Não me posso queixar que não recebi todo o amor possível, sei que a minha mãe foi a mãe e o pai que não tive, deu-me tudo o que estava ao seu alcance, mas também sei que muita da minha instabilidade emocional se deve à ausência de uma figura paternal, talvez por todos aqueles comportamentos que as meninas têm perante os pais nunca me tenham sucedido...
A pior fase em termos de relação foi sem dúvida a adolescência. A grande diferença de gerações entre mim e a minha mãe, que foi mãe aos 35 anos, tornou a nossa relação extremamente conflituosa, por vezes quase destrutiva...
Era uma adolescente revoltada, angustiada, desiludida com a vida, desiludida com os outros, imensamente depressiva e introvertida, sentimentos que ela não conseguia perceber e com os quais nunca soube lidar. Não me lembro de quantas tardes e noites me fechava no quarto a chorar, a ouvir música, a escrever no meu caderninho e ela nem sequer das minhas tristezas se apercebia...ou eu simplesmente não deixava que ela se aproximasse de mim, talvez o verdadeiro problema não fosse ela mas eu, que me afastava, que me queria isolar dela e de todos, que não a deixava ajudar-me. Após 3 anos de depressão cheguei ao fundo do poço e do desespero, a tentativa de suicídio foi inevitável e o ponto de chegada de todo aquele meu percurso destrutivo.
Naqueles tempos após descobri que a minha própria mãe não me conhecia, não conseguia entender o meu desespero e a minha auto-destruição. Ouvia-a falar sobre mim à psicóloga e pensava que a pessoa que vivia comigo me sentia uma desconhecida, não me reconhecia nas palavras dela...
Foram tempos difíceis, a minha mãe desesperava por me tentar ajudar, eu continuava a não deixar que ela se aproximasse de mim, a toda a hora a preocupação era imensa por não me deixar sozinha, a toda a hora queria que eu dissesse onde estava, com quem estava, etc, etc. Como não podia deixar de ser, o meu pai esteve sempre ausente de tudo isto como se não existisse, penso até que nem sequer soube do sucedido...para quê saber se nunca se preocupou com tantas outras coisas?!
No ano seguinte iniciei a minha vida académica, o que ajudou bastante a minha recuperação. Era o início de outra vida, noutra cidade, com outros amigos e outros objectivos. Foi também o início de uma nova relação com a minha mãe, talvez motivada pela distância, pelo sentimento de falta e saudade. Foram 6 anos fora desta cidade, podia vir sempre que quisesse mas também me podia ir embora quando assim entendesse. Não houve umas férias que não me fosse embora mais cedo do que o previsto, ela não entendia que não me podia controlar como dantes, que eu já não estava habituada a dar satisfações da minha vida a ninguém, coisa que ela pedia a toda a hora e que eu não estava disposta a ceder.
No último ano da Faculdade, no dia da imposição das insígnias, mais uma vez ele (o meu pai) esteve ausente, num dia que era tão importante para mim. No campo do Bessa chorei, de forma a que ninguém notasse, mas chorei de desilusão, chorei por todas as mágoas que sinto por ele, por ser incapaz de ser o pai que sempre desejei e necessitei...nunca lhe vou perdoar essa ausência...
Após acabar o curso regressei a casa, com a perfeita noção que não ia conseguir viver na mesma casa que a minha mãe, não era capaz de voltar a ser a filha que tinha saído 6 anos antes. E foi o que aconteceu, no final de Agosto saí, até hoje, pois conseguimos ser melhor "mãe" e "filha" assim, tenho muito mais necessidade de a visitar e de estar com ela morando numa casa diferente.
Hoje sei que sou uma pessoa diferente, sinto até de forma diferente, continuo a ser a mesma impulsiva de sempre, mas com noção do que sou capaz e do que, principalmente, os outros são capazes...

E o amor?! diriam vocês
É claro que houve, muito, mas isso fica para outro dia!!

3 comentários:

Anônimo disse...

Como é óbvio não consigo chegar nem perto de imaginar o que foi a tua vida, o que sofreste, como te sentiste…
No presente espero que as tuas desilusões, angústias e maiores tristezas, se não tiverem desaparecido, pelo menos comecem a fazê-lo… Admiro-te imenso por teres lutado, por teres seguido em frente, por seres assim como és hoje apesar de todos os problemas… A impulsividade é um dom, eu sou assim e não me arrependo… às vezes erramos, sim… e depois? Somos genuínas, sinceras, naturais, verdadeiras… Erro é pensar demasiado no que se vai dizer ou fazer, porque nunca é o que realmente sentimos!
Como tu me disseste, nós estamos aqui… a mim ajuda-me, quero que se precisares, te ajude a ti também!

Beijinhos***

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Só uma grande Mulher escreve assim Anni...
Só uma grande Mulher luta e segue em frente.
Estarei sempre por aqui, se precisares de ajuda.
Um abraço apertado.
(Desculpa, por lapso apaguei o post anterior que tinha escrito)